Uma vida dedicada ao teatro
Polêmico, proativo e apaixonado
pelo teatro. Dessa forma é possível descrever Jorge Lins, figura
conhecida entre os produtores culturais sergipanos. Prestes a completar
40 anos de carreira artística, Jorge tem mais de 140 peças escritas e 80
montadas profissionalmente. Hoje, seu projeto de maior repercussão, as
Oficinas do Ator, tem turmas para crianças e adultos e terá novo módulo
em setembro. Antes disso, ele apresenta o espetáculo “Filhos de Beatles”
no próximo dia 30 de julho, no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju.
“Gostaria muito de voltar aos palcos"
A8 - Uma
coisa chama a atenção: o carinho com que você conduz seus projetos e a
dedicação que tem. Como sua história nessa área começou?
Jorge Lins - No
próximo ano, eu completo 40 anos de Teatro e Cultura. Comecei como
aluno do Atheneu, escrevendo no jornalzinho da escola, participando do
grupo de teatro.
A8 - Você começou sua carreira como ator? Ou sempre teve predileção pelos bastidores?
JL - Vivi
muito tempo como ator e como iluminador. Gostaria muito de voltar aos
palcos e quero ver se no próximo ano, quando completo 40 de carreira
artística, volto. Mas, sobreviver no palco, financeiramente, é inviável e
não consigo atuar e produzir ao mesmo tempo. Mas, de vez em quando,
faço uma pequena participação.
A8 - Em seus espetáculos?
JL - Em
comerciais de TV, já fiz uma peça com Flávio Porto e fizemos temporada
em Rondônia, Acre, Bahia. Mas, muito pouco. Quando dirigi “O anjo
safado”, ano passado, deu vontade subir no palco. Mas, a tarefa era
grande e árdua, fiquei mais uma vez nos bastidores.
A8 - Sendo
um homem dedicado quase que integralmente ao teatro, como você avalia o
teatro em Sergipe? Não apenas em termos de apresentações, como em
termos de desenvolvimento...
JL - Acho
que evoluímos bastante, no que concerne à produção, às condições
técnicas para apresentações, à formação dos atores e profissionais
envolvidos no processo de criação de um espetáculo. Mas, ainda estamos
começando a descobrir a interiorização. Não existem espaços adequados
pelo interior. Estamos vivendo uma fase de transição, na qual os grupos
estão aprendendo a elaborar projetos, buscar patrocínios, fazer
excursões, contratar profissionais. O nosso grupo, por exemplo, viaja
por conta própria por quase todas as cidades do interior do estado e
também da Bahia, Pernambuco, Alagoas. É barra!
“Existem
ações, mas falta uma filosofia. Existem pessoas bem intencionadas na
área, mas, o que falta mesmo, é conhecimento de causa.”
A8 - Isso
acaba privando as pessoas do acesso a essa manifestação cultural. Como
você avalia o envolvimento do setor público nesse cenário? Não que ele
seja o único responsável por isso...
JL - Vivemos
uma época difícil... Não se há, na verdade, uma política de
gerenciamento cultural em nenhum dos poderes. Existem ações, mas falta
uma filosofia. Existem pessoas bem intencionadas na área, mas, o que
falta mesmo, é conhecimento de causa. O processo cultural, como um todo,
requer muito mais que um simples trabalho de marketing, realizações de
fóruns ou realização de festas “popularescas”. Mesmo as casas de
espetáculos, museus e bibliotecas não podem ser administrados como
espaço apenas para apresentação de ideias, devem ser templos de
elaboração de conteúdos, de criação de novas plateias. Eu só acredito em
teatro, museu e biblioteca bem vivos, pulsando a energia do povo,
trazendo pessoas e formando cidadãos. Eu não acredito numa política
cultural, em um estado em crescimento como o nosso, sem priorizar a
formação de novas plateias, sem intermediar reuniões entre a sociedade
civil que pode financiar projetos e artistas. Não adianta só capacitar
gestores e produtores, é necessário possibilitar um encontro entre essas
figuras e o empresariado.
Alunos das Oficinas do Ator
A8 - Você tocou num ponto interessante: o público sergipano. Como você avalia o comportamento dele?
JL - Eu
gosto do público sergipano. Ele é ávido, participativo, enche peças e
produções de fora, mas está começando a dar valor para as produções
locais. Agora, as produções precisam repensar suas formas e criar
calendários, pesquisar o que o público quer. Não estamos mais na época
de amadorismo. Precisamos ser profissionais.
A8 - Você
atribui esse envolvimento maior com a produção local à participação
direta dos artistas que participam das peças no convite ao público? As
peças que são resultado de oficinas sempre tem um grande elenco, o que
se reflete diretamente no público que assiste ao espetáculo...
JL - Também.
Nós temos conseguido colocar em cada produção nossa, mais de 2 mil
pagantes, sem ser projeto Escola. Lógico que o fato de o elenco dos
espetáculos da Oficina ser enorme, ajuda. Mas, o público sai satisfeito e
retorna. Fizemos isso em “O anjo safado”, “Chê”, “As mulheres de
Hollanda”, “A chegada de Lampião no Inferno”. Só essas produções
colocaram mais de 10 mil pagantes juntas. Agora vamos estrear “Filhos
dos Beatles”, dia 30 de julho. A segunda sessão, das 21h, quase que não
tem mais ingressos e faltam ainda 20 dias para o espetáculo e ainda nem
começamos a divulgação com cartazes, outdoors, TV, rádios e jornais.
A8 - Você
falou em profissionalização. Os atores na Oficina são instruídos a
proceder com a documentação para regularização dentro da profissão?
Apenas o curso permite que isso aconteça ou existe um número mínimo de
apresentações?
JL - Para
que haja a sindicalização é necessário a comprovação de cursos que
completem uma carga horária que A Delegacia Regional do Trabalho (DRT)
exige e a comprovação de participação em pelo menos, 3 espetáculos.
“Precisamos ser profissionais”
A8 - Depois que o aluno passa por esse estágio, como você reaproveita os novos profissionais em suas produções?
JL - Muitos
são aproveitados. Recentemente, remontei “Barba Azul, o pirata” com um
elenco todo de atores da Oficina. O mercado de vídeo, de comerciais para
TV também está aproveitando bastante o pessoal da Oficina. Toda semana
vejo gente da oficina na telinha. E agora, várias produções feitas para a
Internet, com vários alunos da Oficina. Fico muito feliz e sinto que o
nosso trabalho é importante para qualificar.
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