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domingo, 6 de outubro de 2013

Entrevista com Jorge Lins



Uma vida dedicada ao teatro
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Polêmico, proativo e apaixonado pelo teatro. Dessa forma é possível descrever Jorge Lins, figura conhecida entre os produtores culturais sergipanos. Prestes a completar 40 anos de carreira artística, Jorge tem mais de 140 peças escritas e 80 montadas profissionalmente. Hoje, seu projeto de maior repercussão, as Oficinas do Ator, tem turmas para crianças e adultos e terá novo módulo em setembro. Antes disso, ele apresenta o espetáculo “Filhos de Beatles” no próximo dia 30 de julho, no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju.

Entrevista exibida em 10 de Julho de 2013 ás 12:00 - Entrevista              Por: Viviane Marques -
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“Gostaria muito de voltar aos palcos"

 A8 - Uma coisa chama a atenção: o carinho com que você conduz seus projetos e a dedicação que tem. Como sua história nessa área começou?

Jorge Lins - No próximo ano, eu completo 40 anos de Teatro e Cultura. Comecei como aluno do Atheneu, escrevendo no jornalzinho da escola, participando do grupo de teatro.

A8 - Você começou sua carreira como ator? Ou sempre teve predileção pelos bastidores?

JL - Vivi muito tempo como ator e como iluminador. Gostaria muito de voltar aos palcos e quero ver se no próximo ano, quando completo 40 de carreira artística, volto. Mas, sobreviver no palco, financeiramente, é inviável e não consigo atuar e produzir ao mesmo tempo. Mas, de vez em quando, faço uma pequena participação.

A8 - Em seus espetáculos?

JL - Em comerciais de TV, já fiz uma peça com Flávio Porto e fizemos temporada em Rondônia, Acre, Bahia. Mas, muito pouco. Quando dirigi “O anjo safado”, ano passado, deu vontade subir no palco. Mas, a tarefa era grande e árdua, fiquei mais uma vez nos bastidores.

A8 - Sendo um homem dedicado quase que integralmente ao teatro, como você avalia o teatro em Sergipe? Não apenas em termos de apresentações, como em termos de desenvolvimento...

JL - Acho que evoluímos bastante, no que concerne à produção, às condições técnicas para apresentações, à formação dos atores e profissionais envolvidos no processo de criação de um espetáculo. Mas, ainda estamos começando a descobrir a interiorização. Não existem espaços adequados pelo interior. Estamos vivendo uma fase de transição, na qual os grupos estão aprendendo a elaborar projetos, buscar patrocínios, fazer excursões, contratar profissionais. O nosso grupo, por exemplo, viaja por conta própria por quase todas as cidades do interior do estado e também da Bahia, Pernambuco, Alagoas. É barra!


“Existem ações, mas falta uma filosofia. Existem pessoas bem intencionadas na área, mas, o que falta mesmo, é conhecimento de causa.”

A8 - Isso acaba privando as pessoas do acesso a essa manifestação cultural. Como você avalia o envolvimento do setor público nesse cenário? Não que ele seja o único responsável por isso...

JL - Vivemos uma época difícil... Não se há, na verdade, uma política de gerenciamento cultural em nenhum dos poderes. Existem ações, mas falta uma filosofia. Existem pessoas bem intencionadas na área, mas, o que falta mesmo, é conhecimento de causa. O processo cultural, como um todo, requer muito mais que um simples trabalho de marketing, realizações de fóruns ou realização de festas “popularescas”. Mesmo as casas de espetáculos, museus e bibliotecas não podem ser administrados como espaço apenas para apresentação de ideias, devem ser templos de elaboração de conteúdos, de criação de novas plateias. Eu só acredito em teatro, museu e biblioteca bem vivos, pulsando a energia do povo, trazendo pessoas e formando cidadãos. Eu não acredito numa política cultural, em um estado em crescimento como o nosso, sem priorizar a formação de novas plateias, sem intermediar reuniões entre a sociedade civil que pode financiar projetos e artistas. Não adianta só capacitar gestores e produtores, é necessário possibilitar um encontro entre essas figuras e o empresariado.

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Alunos das Oficinas do Ator

  A8 - Você tocou num ponto interessante: o público sergipano. Como você avalia o comportamento dele?


JL - Eu gosto do público sergipano. Ele é ávido, participativo, enche peças e produções de fora, mas está começando a dar valor para as produções locais. Agora, as produções precisam repensar suas formas e criar calendários, pesquisar o que o público quer. Não estamos mais na época de amadorismo. Precisamos ser profissionais.

A8 - Você atribui esse envolvimento maior com a produção local à participação direta dos artistas que participam das peças no convite ao público? As peças que são resultado de oficinas sempre tem um grande elenco, o que se reflete diretamente no público que assiste ao espetáculo...

JL - Também. Nós temos conseguido colocar em cada produção nossa, mais de 2 mil pagantes, sem ser projeto Escola. Lógico que o fato de o elenco dos espetáculos da Oficina ser enorme, ajuda. Mas, o público sai satisfeito e retorna. Fizemos isso em “O anjo safado”, “Chê”, “As mulheres de Hollanda”, “A chegada de Lampião no Inferno”. Só essas produções colocaram mais de 10 mil pagantes juntas. Agora vamos estrear “Filhos dos Beatles”, dia 30 de julho. A segunda sessão, das 21h, quase que não tem mais ingressos e faltam ainda 20 dias para o espetáculo e ainda nem começamos a divulgação com cartazes, outdoors, TV, rádios e jornais.

A8 - Você falou em profissionalização. Os atores na Oficina são instruídos a proceder com a documentação para regularização dentro da profissão? Apenas o curso permite que isso aconteça ou existe um número mínimo de apresentações?

JL - Para que haja a sindicalização é necessário a comprovação de cursos que completem uma carga horária que A Delegacia Regional do Trabalho (DRT) exige e a comprovação de participação em pelo menos, 3 espetáculos.

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“Precisamos ser profissionais”

A8 - Depois que o aluno passa por esse estágio, como você reaproveita os novos profissionais em suas produções?

JL - Muitos são aproveitados. Recentemente, remontei “Barba Azul, o pirata” com um elenco todo de atores da Oficina. O mercado de vídeo, de comerciais para TV também está aproveitando bastante o pessoal da Oficina. Toda semana vejo gente da oficina na telinha. E agora, várias produções feitas para a Internet, com vários alunos da Oficina. Fico muito feliz e sinto que o nosso trabalho é importante para qualificar.

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