O cientista Vítor Laerte considerou hoje que o vírus Zika assusta porque "a cada nova descoberta, agrega uma gravidade maior", mas defendeu que é preciso ser racional e tomar medidas para prevenir a doença.
© Lusa
PAÍS VÍRUS12:25 -
08/04/16POR LUSA
Vítor Laerte fala
hoje sobre o vírus do Zika no Dia Aberto do Instituto de Higiene e Medicina
Tropical (IHMT), em Lisboa, durante o qual o instituto espera promover o
contacto da população com a ciência e atrair os jovens para a investigação.
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Entre outras
atividades, o 5.º Dia Aberto do IHMT, que decorre entre hoje e sábado, inclui
uma sessão sobre o Zika, na qual os investigadores Vítor Laerte e Luís Lapão
vão falar sobre a doença de forma clara e, numa simulação de telemedicina,
mostrar como as tecnologias estão a contribuir para a investigação sobre o
Zika.
Em entrevista à Lusa,
Laerte explicou que o grande desafio, para a sessão de hoje, mas também para a
investigação sobre o Zika em geral, é que muito do que se diz agora pode mudar
em poucos dias.
"Como o foco da
investigação está muito em cima da doença, o conhecimento que vai sendo gerado
em muito pouco tempo é muito grande, e às vezes pode ser até conflituante.
Muito do que se está a discutir hoje pode ser refutado amanhã", exemplificou
o investigador do IHMT.
A questão é que,
embora o vírus do Zika seja conhecido desde 1947, pouco se estudou até agora,
pelo que quando a epidemia na América do Sul foi detetada o desconhecimento
sobre a doença era grande.
Desde então, a
comunidade científica tem-se desdobrado em esforços para conhecer melhor a
doença, e quanto mais se conhece, mais assustadora parece.
"O Zika assusta
muito porque a cada dia, a cada nova descoberta, agrega uma gravidade
maior", disse Vítor Laerte, sublinhando que "o medo do desconhecido é
maior do que o medo do que é conhecido".
Embora se soubesse,
desde que foi descoberto, que o vírus tinha "uma predileção pelas células
do sistema nervoso", só recentemente se descobriu a associação a doenças
como o Síndroma Guillain-Barré, uma doença neurológica grave, ou a
microcefalia, uma doença em que os bebés nascem com o cérebro anormalmente
pequeno.
Além disso,
exemplificou Laerte, há relatos de casos de mielite, uma infeção da medula
espinal, de meninge, uma inflamação das meninges, e tem-se associado a alguns
quadros neurológicos, não sendo de excluir que apareçam mais consequências.
Há também outras
complicações relacionadas com a transmissão congénita, além da microcefalia: o
vírus está associado a abortos, calcificações cerebrais e outras malformações
congénitas, referiu.
Tendo em conta que o
vírus é transmitido por um vetor que é difícil controlar, que já está provado
que existe transmissão sexual, e que causa manifestações neurológicas, o Zika
"é de facto assustador", admitiu o cientista.
"Não restam
dúvidas de que estamos diante de uma doença que tem um componente que causa
medo e pânico na sociedade. Mas não adianta a população se tomar de medo e
pavor. É preciso ser racional e tomar as medidas para prevenir a
transmissão", afirmou.
Para isso, alertou,
"o principal cuidado é evitar a transmissão vetorial".
https://www.noticiasaominuto.com/pais/568537/zika-assusta-porque-se-conhece-mal-e-cada-descoberta-agrega-gravidade
https://www.noticiasaominuto.com/pais/568537/zika-assusta-porque-se-conhece-mal-e-cada-descoberta-agrega-gravidade
Aos portugueses, o
cientista recomenda que tomem cuidados se viajarem para um local onde haja
transmissão vetorial, o que muda com frequência, pelo que é importante
verificar na Internet ou junto de uma consulta de medicina do viajante.
Durante a viagem, é
importante evitar o contacto com o mosquito, e depois é preciso evitar o
contacto sexual sem preservativo e evitar a gravidez nos primeiros meses após o
regresso, devido ao risco de malformações fetais.
Isto é importante
porque, na maior parte dos casos, a infeção pelo Zika não provoca sintomas,
pelo que é possível que uma pessoa tenha o vírus mesmo sem saber.
O vírus do Zika,
transmitido pelo mosquito 'Aedes aegypti', provoca sintomas gripais benignos,
mas está também associado a microcefalia, doença em que os bebés nascem com o
crânio anormalmente pequeno e défice intelectual, assim como ao síndroma de
Guillain-Barré, uma doença neurológica grave.
O Brasil, o país mais
afetado pelo surto de Zika, já registou mais de um milhão e meio de casos da
doença e o número de casos confirmados de microcefalia subiu para 1.046, dos
quais 227 bebés acabaram por morrer.
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