Como saber se algo vai dar certo? Intuição e Psicologia
Olá amigos!
Praticamente todo dia alguém me faz uma pergunta aqui no site que se resume à pergunta do título: “Será que fazer a faculdade X vai ser bom?” ou “Será que, com isso, isso e aquilo, este relacionamento vai durar?” ou “tenho estes gostos, será que daria certo se eu seguisse por esse caminho?”
Então, vamos conversar sobre o futuro e a intuição, sob o olhar da psicologia analítica de Jung.
Como saber se algo vai dar certo?
Em psicologia, como uma ciência humana e não exata, temos sempre que falar em termos de possibilidades ou probabilidades. Pode acontecer, mas também pode não acontecer, depende. Na economia, usa-se muito o termocoeteris paribus para afirmar uma projeção na qual “todo o resto permanece constante”. Em outras palavras, se nada mudar, pode ser que a projeção (pelo que foi no passado e é no presente) esteja correta.
Por isso, também – nos momentos de maior pessimismo – podemos responder simplesmente à questão: não sei, não dá para saber. Talvez sim, talvez não. Quem sabe?
Bem, algumas pessoas parecem saber mais do que outras. Jung afirma em seu famoso Tipos Psicológicos que certas pessoas tem mais capacidade de “antever o futuro”, através da função psíquica intuição, que é a percepção por vias inconscientes. Jung utiliza a palavra Intuition, mas em alemão também temos a palavra Bauchgefühl, literalmente, sentir com a barriga.
Quando você tem a intuição desenvolvida, você sabe que pode dar certo. Você sente. Ou você consegue “cheirar que alguma coisa não está bem” e não vai dar certo. É um pressentimento, é sentir antes.
Então, digamos: você sente que se fizer, vai dar errado. Você faz mesmo assim. Quebra a cara e depois diz: “eu sabia”. O que nos leva a uma segunda questão.
Fazer ou não fazer?
Na faculdade aprendi a diferença entre moral e ética. Moral é um corpo de regras e formulações que te diz o que fazer, mas especialmente te diz o que não fazer: não mentir, não roubar, não matar, etc. Ética (atualmente confundida com este conceito de moral) trata do problema – filosófico – do que é melhor fazer. Ao contrário da moral, não há nada que te oriente. Você tem que decidir.
Socialmente, existem as regras de convívio. Se você transgride, terá que enfrentar as consequências. Mas no que tange à vida pessoal, a moral não responde. Por isso, nos sentimos frequentemente perdidos do que fazer:
– Casar ou comprar uma bicicleta?
– Mudar de cidade ou continuar aqui?
– Comprar mais coisas ou abandonar tudo?
– Se reinventar ou permanecer na zona de conforto?
O maravilhoso é que, depois de certa idade, somos completamente responsáveis por todas as escolhas. Como aprendemos na psicologia existencial, até culpar os outros por estarmos aonde estamos é uma escolha. Não fazer nada também é uma escolha.
Mas voltando, temos que existe a intuição. Até que ponto a intuição pode ser aumentada, é um outro problema. É certo que o autoconhecimento, especialmente dos conteúdos inconscientes (os sonhos são ótimos), permite com que estes lampejos do caminho a seguir apareçam com mais frequência. Entretanto, como disse, ainda que tenhamos uma intuição – que vai ou não funcionar – temos um espaço de escolha, já que podemos ir contra a intuição e dar com os burros n’água de qualquer jeito.
A lógica controladora
Quem é mais pensamento, vai analisar e fazer um levantamento completo dos prós e contras, vai pesar e esmiuçar tudo o que puder. Pode até utilizar contas de probabilidade, gráficos, porcentagens. Porém, a lógica não controla a vida, pois é aquilo: funciona se todas as condições permanecerem as mesmas, coeteris paribus ou “mantidas inalteradas todas as outras coisas”.
Por exemplo, você gosta muito de mexer com tecnologias e escuta falar desde sempre que o futuro é a informática. Todos concordam. Você vai e se forma em uma faculdade relacionada porque a expectativa é que o mercado estaria pronto para te absorver logo após a colação de grau. Contudo, centenas de milhares de pessoas formaram, pensando o que você tinha pensado, quer dizer, uma outra coisa não se manteve – a concorrência. Com concorrência maior, os salários tendem a diminuir ou o mercado fica saturado de profissionais.
Ou então você aposta todas as fichas que este é O relacionamento, apenas para descobrir em seguida que a outra pessoa não concorda contigo.
Este é o problema da vida. A impermanência… que é também é a solução. Se todas as coisas continuassem inalteradas, não seria só tedioso: mudanças positivas não teriam vez.
Riscos controlados
Worst case scenario significa no pior dos casos, na pior das hipóteses. Pensar nos riscos é considerar o que de pior pode suceder. Por exemplo, você compra um carro e não contrata um seguro. Você tem um lucro (não tem que pagar o seguro caro), mas e se… acontecer… algo? O que de pior pode acontecer?
A vantagem de pensar no pior dos cenários é que você consegue se precaver e, imaginando de verdade, avaliar se o risco é grande ou não. Se você quer fazer uma faculdade, pode considerar os custos integrais e pensar no que de pior pode acontecer no longo prazo (geralmente, ter uma graduação não é algo negativo). Se você contrata um consórcio, tem que pensar na possibilidade de não poder pagar ou não querer o bem, então, tem que avaliar com cuidado os riscos.
Se os riscos forem baixos ou nenhum, é mais fácil tomar uma iniciativa. Como se disséssemos: “vou tentar, afinal, se der errado só vai acontecer X”. Porém, a maior questão é avaliar com cuidado o nosso maior ativo: o tempo. Ir por um caminho equivocado pode ser uma incrível perda de tempo. Não que não se ganhe algo (ao menos experiência), mas perde-se aquele tempo para fazer outra coisa.
Conclusão
Bem, tenho a impressão que falei e não respondi. A resposta é simples: não temos como saber com 100% de certeza se algo deve ou não ser feito. A nossa intuição – ter pressentimentos, saber por vias inconscientes, sentir com a barriga, ter um frio na barriga, sentir um cheiro disso ou daquilo – pode nos ajudar e ser um dado a mais na avaliação sobre as possibilidades e os riscos.
Algumas pessoas são mais intuitivas do que outras. Mas mesmo as pessoas muito intuitivas erram. O que demonstra que nem a intuição mais apurada estará completamente exata o tempo todo (se estivesse, a vida perderia um pouco da graça presente no mistério de não saber sobre o futuro).
Além disso, ter uma intuição é uma coisa. Segui-la ou não é algo que cada um deve pensar em sua ética particular. E é muito complicado julgar. Em muitas vezes, o erro é um acerto no longo prazo.
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