por Professor Felipe de Souza | Dicas Práticas Psicologia MSN.com
Olá amigos!
Vi há pouco tempo um filme muito interessante chamado The Dhamma Brothers, que é sobre a aplicação de técnicas de meditação em prisioneiros em um estado conservador dos Estados Unidos, o Alabama. É possível ver na Netflix. O que mais me marcou no filme foi como a meditação pode ser uma ferramenta de transformação pessoal, inclusive em pessoas que cometeram crimes graves, como assassinato.
Um dos prisioneiros, que tinha sido condenado por participar em um assassinato, que tinha ficado durante muitos anos no corredor da morte, afirmou que muito mais difícil do que ter sido preso e de ter a possibilidade de ser morto pelo Estado era parar e olhar para dentro.
Com o tempo, eles passam por um incrível processo de transformação. É visível como sentimentos antes predominantes de raiva e ódio, vão dando lugar a sentimentos de tranquilidade e paz. Mas o que é ainda mais transformador é que eles passam assumir a total responsabilidade por estarem aonde estão.
Quantos de nós podemos dizer o mesmo? Afinal, a tendência é passar a responsabilidade para os outros e culpá-los ou culpar as situações e circunstâncias. Não é assim? Não aprendemos desde pequenos como nos justificar para livrar a nossa cara e ficar bem perante os olhos dos outros?
Como exemplo, há a criança que diz que seu professor não é bom bastante e por isso não foi bem na prova. Ou uma empresa que demite funcionários com a justificativa de que a economia não vai bem e que estamos em crise. Parece que desde que eu me entendo por gente, o mundo e o Brasil está em crise.
Evidentemente existe uma diferença entre em condições externas desfavoráveis e uma desculpa esfarrapada que contamos para nós mesmos ou para os outros. Dhamma, no título do filme é a palavra Dharma, que muitos conhecem por estar relacionada a Karma (ação). Podemos traduzir Dhamma como verdade.
Não é fácil admitir que a nossa vida é como é hoje pelas milhões de ações que realizamos — ou não realizamos – no passado. Por um lado, é maravilhoso observar que a nossa vida só depende da gente mesmo. Por outro lado, é delicado enfrentar a verdade e assumir a responsabilidade pelo que fizemos e deixamos de fazer.
Você já parou para pensar realmente nisso? Por exemplo, o lugar no qual você acorda representa uma escolha feita na noite anterior. Assim como as pessoas com as quais você se relaciona. Tudo, tudo consiste em uma escolha pessoal e dizer que a culpa é do outro – por incrível que possa parecer para alguns – não é saudável.
Uma boa parte da terapia reside justamente no aumento da autonomia e da capacidade de ser honesto consigo. Aprender a dizer: “estou aqui, aonde estou e como estou, pelas minhas escolhas feitas até então. Só eu posso mudar o que será daqui pra frente”.
O eu e o outro
É óbvio que cada um de nós parte de um contexto diferente do contexto das outras pessoas. Se tivemos ou não pai e mãe, se nossa família é de um jeito ou de outro, se tivemos condições materiais e culturais melhores ou piores, enfim, o objetivo do texto de hoje não é colocar toda a responsabilidade do sujeito como se todas as condições externas fossem idênticas para todos. A ideia não é essa e o caminho não é por aí.
A ideia é muito bem expressa na frase da filosofia existencial de Sarte: não é o que fizeram de você mas sim o que você fez do que fizeram de você, entende?
Por exemplo, uma pessoa que nasceu em uma família de baixa renda, pode acreditar que uma pessoa pobre, por ser pobre, tem que trabalhar e não estudar. Enquanto outra pessoa vai pensar exatamente o inverso: por ser pobre é que é fundamental estudar para, no longo prazo, encontrar melhores oportunidades de trabalho.
São escolhas pequenas, mínimas, como escolher o que comer e são escolhas grandes, decisivas, que vão construindo pouco a pouco a nossa vida. Fica fácil de visualizar isso, se imaginarmos o que fizemos nos últimos 10 anos. Se nos alimentamos bem, teremos uma vida mais saudável. Se nos alimentamos mal, poderemos ficar doentes ou acima do peso. Se escolhemos relacionamentos positivos ou negativos, também depende de nós e escolher as pessoas com quem queremos passar o nosso tempo também influencia diretamente nosso bem estar psíquico.
Em resumo, é imprescindível assumir a responsabilidade pela própria vida. Como disse, não é fácil. Mas é libertador perceber a imensa liberdade que temos. Se você fez a experiência de pensar nos últimos 10 anos, também pode pensar aonde quer estar nos próximos 10 anos.
É claro que assumir a responsabilidade da própria vida não significa um passe de mágica para conseguir realizar tudo. Mas certamente é meio caminho andado. Em uma das frases que mais gosto do Ford percebemos com clareza a relação entre autonomia e realização: ” se você pensa que pode ou se você pensa que não pode, de qualquer jeito você está certo “.
Sei, pela minha experiência no consultório de psicologia, que para muitas pessoas é realmente muito complicado sair da posição de vítima. A posição de vítima parece uma posição confortável, e muitas vezes para própria pessoa parece que é a realidade.
“Fizeram isso e isso e aquilo e por isso sou assim, por isso não posso fazer nada, por isso não vai dar certo porque as pessoas não ajudam, etc”.
Mais ou menos, todos nós temos um pouco disso. Quanto menos, melhor. Ser responsável pela própria vida e assumir os riscos e incertezas de escolher a partir de dentro, e muitas vezes estar e se sentir completamente sozinho, pode sim ser muito complicado. Mas a realidade última é essa: o que você vai ser vai depender do que você fizer hoje, a partir do que você fez até hoje.
Leia também – Por que você deve sair agora da posição de vítima
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