Diário de Valentina: mãe de bebê com
microcefalia busca o vale social para ter
gratuidade no transporte
"Já deixei de levar Valentina para tratamento porque não tinha dinheiro para a passagem. Isso me deixou muito mal”. O desabafo da mãe do bebê de 4 meses, que nasceu com microcefalia, reflete a luta de muitas famílias carentes que desconhecem o direito ao vale transporte social ou, como é o caso de Fabiane Lopes, de 32 anos, ainda não conseguiram chegar ao fim do processo para obter o benefício.
A rotina de consultas de Valentina vem sendo acompanhada pelo EXTRA desde fevereiro e, há quatro domingos, a série de reportagens “Diário de Valentina” mostra o desenvolvimento da menina e sua busca por tratamento e benefícios sociais.
Pediatra, neurologista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, ortopedista, cardiologista. Para comparecer às consultas — algumas semanais — com todos esses especialistas e garantir o melhor tratamento para a filha, Fabiane sai de casa com o dinheiro contado. O Bolsa Família, que havia sido bloqueado no fim de março, voltou a ser depositado, mas nem sequer dá para o aluguel.
— Muitas vezes, principalmente quando busco atendimento de emergência, passo o dia no hospital. O dinheiro é contado para a passagem. Por isso, tento não trazer Ana Júlia, de 3 anos, nem Maria Eduarda, de 8. Elas ficam com fome. Até mesmo o Breno, de 13, reclama. Mas, se eu comprar alguma coisa, não volto para casa — contou Fabiane.
Após as sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, no dia 22 de março, Ana Júlia se queixava de fome. Ganhou um chiclete.
Dois dias depois, Fabiane e as três filhas foram a um agência do Correios. Tiraram CPF para as crianças. Por cada um, pagou R$ 7. Seguiram andando para o centro de assistência social, no Centro de Caxias, em busca do vale social.
— Peguei um formulário para o passe e uma lista de documentos que preciso trazer com xerox. Apesar de já ter um laudo sobre a microcefalia da Valentina, eles pedem que o médico escreva o parecer no formulário. Então terei que pedir novamente isso à neurologista. Também exigem foto 3 por 4 das crianças. Tudo é dinheiro e tempo — disse Fabiane, que conseguiu, na consulta do dia 1º de abril, que a especialista reescrevesse o laudo no formulário do vale social.
Já as xerox e as fotos ainda não foram providenciadas. No período em que ficou sem o Bolsa Família, a mãe de Valentina contou com doações de amigos e até desconhecidos.
— Valentina está tossindo sem parar, com dificuldade para respirar e não consegue mamar. Chega a ficar roxa e vomita por causa da tosse. Ana Júlia e Maria Eduarda também ficaram doentes e, na semana passada, fui operada de emergência. Não consegui entregar ainda a documentação para o vale social — contou Fabiane, que, nas últimas terça e quarta-feira, mesmo com os pontos da cirurgia, levou a caçula à emergência do Hospital Adão Pereira Nunes. A menina está tomando antibiótico.
26.04.2016
Resfriada desde a semana passada, Valentina tosse sem parar. Após sessão de fonoaudiologia, é atendida na emergência do Hospital de Saracuruna. "Ela não está urinando e tossindo muito", diz a mãe. Após exame de sangue e urina, o médico receita antibiótico e nebulização.
27.04.2016
Fabiane pega dinheiro emprestado para comprar os remédios para a filha. A menina continua sem urinar e a mãe volta com ela para o Hospital de Saracuruna. Valentina recebe soro e é liberada.
28.04.2016
Valentina passa pela consulta com a cardiologista pediatra Fernanda Santana Gama, no Hospital de Saracuruna. Após um ecocardiograma, a médica constata que o problema diagnosticado no nascimento se resolveu. "Estou aliviada! Uma notícia boa!", comemora Fabiane.
Serviço
- O que é o Vale Social
Assegura gratuidade em ônibus intermunicipais, trem, metrô e barca no estado a portadores de deficiência ou doença crônica, que estejam em tratamento em unidades públicas de saúde ou conveniadas ao SUS.
- Onde se inscrever
É preciso pegar um formulário nos postos de cadastramento ou no site www.valesocial.rj.gov.br/formularios.
- Como requerer
Leve a um posto de cadastramento: ficha de cadastro preenchida e laudo médico escrito no verso; CPF; certidão de nascimento ou identidade; comprovante de residência e identidade do titular (se não for o próprio). Tudo original e cópia. Uma foto 3 por 4.
- Laudo médico
Deve informar a doença, o tipo de tratamento, o número de vezes que o paciente comparece mensalmente às unidades de saúdes. Anexe cópia do cartão de consultas.
- Acompanhante
A necessidade de acompanhante deve constar em laudo médico. Menores de 18 anos e deficientes mentais sempre recebem o benefício com direito a acompanhante.
- Contato
Mais informações: 2333-9316, 2333- 9317, de segunda a sexta-feira, das 9h às 15h.
- RioCard Especial
Para obter gratuidade nos ônibus, o primeiro passo é ir a uma clínica da família ou posto de saúde para requerer a inscrição. Após aprovação, o usuário deve entrar em contato com o RioCard para agendar visita ao posto de atendimento. Mais informações no site www.cartaoriocard.com.br.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/rio/diario-de-valentina-mae-de-bebe-com-microcefalia-busca-vale-social-para-ter-gratuidade-no-transporte-19205954.html#ixzz47Wo80CAu
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