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Primeiros registros oficiais de Zika no Brasil completam um ano
A doença, inicialmente tida como uma enfermidade leve, foi tratada como emergência internacional meses mais tarde
Reuters
Brasil
Saúde
18:19 - 07/05/16
POR Notícias ao Minuto
No início do ano passado, o Nordeste brasileiro se deparava
com o aumento de casos de uma doença não identificada, caracterizada por
um quadro de febre leve, conjuntivite, erupção cutânea e dores nas
articulações que duravam até sete dias. As suspeitas médicas de dengue e
chigungunya, febre viral que foi registrada pela primeira vez no
continente americano nas Antilhas, em 2013, não se confirmavam.
No final de abril, um teste preliminar do Instituto de Ciências da
Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA) identificou a presença do
vírus Zika no material biológico coletado dos pacientes. O primeiro caso
de zika no Brasil foi anunciado há exatamente um ano, no dia 7 de maio.
O reconhecimento oficial das autoridades de saúde brasileiras, no
entanto, foi feito apenas no dia 14, após o Instituto Evandro Chagas,
uma das entidades de referência na área, ter analisado as amostras e
confirmado o resultado.
A doença, inicialmente tida como uma enfermidade leve, foi tratada
como emergência internacional meses mais tarde diante das primeiras
evidências de sua ligação com o aumento de casos de microcefalia no
país.
Estimativa divulgada no final de janeiro deste ano pela Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde
(OMS) nas Américas, aponta que entre três e quatro milhões de pessoas
devem contrair o vírus Zika em 2016 no continente americano.
Um milhão e meio desses casos deve ocorrer no Brasil. O cálculo
considera o número de infectados por dengue, doença transmitida pelo
mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti, em 2015, e a falta de imunidade
da população ao vírus.
Mas, segundo especialistas, o real status da evolução da doença no
país é muito difícil de saber. Segundo a Opas, a dificuldade na obtenção
de números confiáveis de casos de infecção pelo vírus zika se deve a
várias razões, como o fato de o vírus ser detectável somente por alguns
dias no sangue das pessoas infectadas, assim como os próprios exames
laboratoriais não conseguirem com facilidade distinguir os casos de zika
de doenças como dengue e chikungunya, que têm sintomas muito
semelhantes.
Além disso, apenas uma em cada quatro pessoas infectadas são
sintomáticas. Isso significa que somente uma pequena parcela de
pessoas desenvolvem os sintomas da infecção causada pelo vírus e procura
os serviços de saúde, prejudicando a contagem dos casos da doença.
Para piorar o quadro de acompanhamento da epidemia, a obrigatoriedade
de notificação de casos suspeitos de zika só foi instituída no
Brasil em 18 de fevereiro deste ano, em razão da doença, até então, ser
considerada uma enfermidade leve e, em geral, sem maiores complicações.
De acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo
Ministério da Saúde, 91.387 casos prováveis de zika foram registrados no
país desde o início do surto no ano passado. Desses, 31.616 já foram
confirmados. O documento aponta que, proporcionalmente, a região
Centro-Oeste apresenta a maior incidência da doença, com 113,4 casos
para cada 100 mil habitantes, enquanto que o Nordeste lidera em número
absoluto de casos de zika, com 31.659 registros. Já entre as unidades da
federação, destacam-se Mato Grosso (491,7 casos/100 mil hab.),
Tocantins (190,9 casos/100 mil hab.), Bahia (164,8 casos/100 mil hab.) e
Rio de Janeiro (156,7 casos/100 mil hab.).
A epidemia não ficou restrita ao Brasil. De acordo com dados da OMS,
até 4 de maio, 57 países e territórios (confira o mapa) informaram
transmissão do vírus zika através de mosquitos. Em 44 desses países,
este é o primeiro surto documentado do vírus. A maioria dos países
afetados encontra-se nas Américas.
Ainda segundo o órgão da ONU, nove países (Argentina, Canadá, Chile,
Estados Unidos, França, Itália, Nova Zelândia, Peru e Portugal)
relataram evidências de transmissão do zika entre pessoas por via
sexual.
A detecção, por pesquisadores brasileiros, da relação da doença com o
número crescente de bebês com microcefalia levou a OMS a declarar a
epidemia de zika como "emergência de saúde pública de preocupação
internacional” . A microcefalia é uma anomalia que implica na
redução da circunferência craniana do bebê ao nascer ou nos primeiros
anos de vida e que pode provocar danos cerebrais,
A descoberta brasileira foi vista inicialmente com muita desconfiança
por vários cientistas internacionais, mas recentemente foi confirmada
pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças Transmissíveis (CDC) dos
Estados Unidos.
Seis países confirmaram casos de microcefalia ou de má formação
fetal potencialmente associadas ao zika, ou sugerindo infecção
congênita, de acordo com a OMS. São eles: Brasil, Colômbia, Cabo Verde,
Polinésia Francesa, Martinica e Panamá. A Espanha também relatou na
última quinta-feira (5) a comprovação do primeiro caso de microcefalia
relacionada ao vírus Zika na Europa.
O país com maior número de casos relatados é o Brasil, com 1.271
casos confirmados de microcefalia e outras alterações do sistema
nervoso, sugestivos de infecção congênita, de acordo com o último
boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. O informe relata ainda 267
óbitos possivelmente em decorrência de microcefalia durante a gestação
(aborto ou natimorto) ou após o parto.
Além da microcefalia, outra complicação associada à zika é a síndrome
de Guillain-Barré, uma doença neurológica rara, de origem autoimune,
que provoca fraqueza muscular generalizada e que, em casos mais graves,
pode até paralisar a musculatura respiratória, impedindo o paciente de
respirar, levando-o à morte. Segundo a OMS, no contexto da circulação do
vírus zika, 13 países e territórios em todo o mundo relataram um
aumento da incidência da síndrome de Guillain-Barré, entre eles o Brasil
e a Colômbia.
Assim como a zika, a síndrome não é de notificação obrigatória, e,
por isso, não há dados nacionais confiáveis sobre os registros da
doença. O número de atendimentos ambulatoriais relacionados à
Guillan-Barré, entretanto, segundo reportagem da Agência Brasil, cresceu
8% de 2014 para 2015.
Embora o quadro diante da luta contra o vírus zika não seja nada
animador diante da grande proliferação dos mosquitos transmissores da
doença, da família Aedes, muitos progressos foram feitos no combate à
doença. Confira seis deles:
1. Recentemente, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou que a
bactéria Wolbachia reduz a transmissão do vírus zika através do mosquito
Aedes aegypti.
2. Um outro estudo, feito por cientistas do Instituto D’Or de
Pesquisa e Ensino (Idor) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), liderados pelo neurocientista das duas instituições Stevens
Rehen e com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Academia Brasileira de
Ciências revela como o vírus zika age nos tecidos cerebrais levando a
malformações neurológicas em bebês, entre elas a microcefalia. O
trabalho, publicado na revista científica Science, pode ajudar a
encontrar medicamentos que reduzam os danos causados pelo vírus na
infecção de grávidas.
3. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
conseguiram fazer o sequenciamento do genoma do vírus zika e encontraram
mais evidências de que a doença está relacionada a casos de
microcefalia. O anúncio, feito em fevereiro deste ano, é do Laboratório
de Virologia Molecular, que analisou o vírus encontrado no líquido
amniótico de grávidas de Campina Grande, na Paraíba. Com sequenciamento
do genoma, eles identificaram a ordem completa das informações genéticas
do vírus, um passo fundamental para entender como o zika age no corpo,
desenvolver vacinas e exames contra a doença.
4. Uma parceria firmada entre o Instituto Evandro Chagas, no Brasil, e
a Universidade do Texas, nos Estados Unidos, deve acelerar o processo
de estudos e elaboração da vacina contra o vírus zika. A vacina contra o
vírus zika poderá estar desenvolvida e pronta para ser testada em
humanos em um ano, segundo informações divulgadas pelo Ministério da
Saúde em fevereiro deste ano.
5. O Instituto Butantan, em São Paulo, está estudando uma vacina e um
soro contra o vírus zika. Dois tipos de vacina contra o vírus zika
estão sendo estudados. O primeiro deles consistiria em transformar a
vacina tetravalente contra a dengue (tetravalente porque combate os
quatro tipos de vírus da dengue) em uma vacina pentavalente, incluindo o
vírus zika. O segundo seria uma vacina específica ou isolada contra a
doença.
6. O Instituto Vital Brazil, vinculado ao governo do Rio de Janeiro,
está pesquisando um fitoterápico contra o vírus zika. O estudo está na
fase laboratorial, in vitro, quando o produto é testado em cultivo
celular. Os pesquisadores já testaram a ação do produto em vírus da
dengue tipo 2 e do mayaro vírus - do mesmo grupo da chikungunya. Agora,
estão sendo testados os tipos 1, 3 e 4 da dengue, além da chikungunya e
do vírus zika.
Com informações da Agência Brasil.
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zika virus e microcefalia
Atualização diária ⋅ 8 de maio de 2016
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