quarta-feira, 29 de outubro de 2014
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Ciência sem Fronteiras: inscrições abertas para graduação-sanduíche
Planalto
Quinta-feira, 21 de agosto de 2014 às 17:55
Programa federal de intercâmbio abre inscrições para graduação-sanduíche
Desde o ensino médio, Pedro Corrêa tem o sonho de fazer intercâmbio em outro país. Agora, cursando o 5º semestre de Engenharia Civil na Universidade de Brasília, ele está pronto para o desafio. Pedro tentará uma das 14.050 novas vagas do programa Ciência Sem Fronteiras, que abriu chamadas para graduação-sanduíche (na qual o estudante realiza parte dos seus estudos em uma instituição estrangeira) em 21 países, dos 44 possíveis no programa.
“Acho que é uma grande oportunidade de ter outra vivência em outra cultura. Além disso, ter outra noção do meu curso em outro país. Então acho que isso pode trazer muita carga pra mim, tanto no profissional quanto no pessoal. Eu me decidi pela Austrália porque pensei que é um lugar mais difícil de conseguir ir em outras oportunidades”, afirmou Corrêa. .
As inscrições estão abertas até 29 de setembro para as chamadas de nº 180 a 183 e 196 a 204. Já para as de nº 179 e 184 a 195, o interessado pode se inscrever até 30 de setembro em uma dasáreas contempladas pelo programa.
Para se inscrever, Pedro precisa obter nota global no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) igual ou superior a 600 pontos, em exames realizados a partir de 2009; apresentar teste de proficiência no idioma aceito pela instituição de destino; ter integralizado no mínimo 20% e, no máximo, 90% do currículo previsto para seu curso no momento do início previsto da viagem de estudos; e ser homologado pela instituição de ensino superior (IES) de origem (mérito acadêmico).
Destinos
Das 85 mil bolsas concedidas desde o lançamento do programa em dezembro de 2011, a grande maioria teve os Estados Unidos como destino. Ao todo, 32% dos agraciados seguiriam para aquele país. Em segundo lugar vem o Reino Unido (11%), seguido por Canadá (8%), França (8%) e Alemanha (7%).
Das 85 mil bolsas concedidas desde o lançamento do programa em dezembro de 2011, a grande maioria teve os Estados Unidos como destino. Ao todo, 32% dos agraciados seguiriam para aquele país. Em segundo lugar vem o Reino Unido (11%), seguido por Canadá (8%), França (8%) e Alemanha (7%).
Os cursos de engenharias e demais áreas tecnológicas contam com o maior número de bolsistas no programa, 52%. Já as áreas que englobam biologia, ciências biomédicas e saúde agregam 18% das concessões; ciências exatas e da terra somam 8%; computação e tecnologias da informação, 6%; produção agrícola sustentável, 4%; seguidas por fármacos e biotecnologia, com 2% cada. Biodiversidades, bioprospecção e energias renováveis participam com 1% das bolsas do Ciência sem Fronteiras.
Sobre o programa
Ciência Sem Fronteiras é um programa de bolsas de intercâmbio e mobilidade internacional para estudantes e tem objetivo de consolidar, expandir e internacionalizar a ciência e tecnologia, inovação e competitividade brasileira.
Planalto
Quinta-feira, 21 de agosto de 2014 às 17:55
Programa federal de intercâmbio abre inscrições para
graduação-sanduíche
Desde
o ensino médio, Pedro Corrêa tem o sonho de fazer intercâmbio em outro país.
Agora, cursando o 5º semestre de Engenharia Civil na Universidade de Brasília,
ele está pronto para o desafio. Pedro tentará uma das 14.050 novas vagas do
programa Ciência Sem Fronteiras, que abriu chamadas para graduação-sanduíche
(na qual o estudante realiza parte dos seus estudos em uma instituição
estrangeira) em 21 países, dos 44 possíveis no programa.
“Acho
que é uma grande oportunidade de ter outra vivência em outra cultura. Além
disso, ter outra noção do meu curso em outro país. Então acho que isso pode
trazer muita carga pra mim, tanto no profissional quanto no pessoal. Eu me
decidi pela Austrália porque pensei que é um lugar mais difícil de conseguir ir
em outras oportunidades”, afirmou Corrêa. .
As inscrições estão abertas até
29 de setembro para as chamadas de nº 180 a 183 e 196 a 204. Já para as de nº
179 e 184 a 195, o interessado pode se inscrever até 30 de setembro em uma dasáreas contempladas pelo
programa.
Para
se inscrever, Pedro precisa obter nota global no Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) igual ou superior a 600 pontos,
em exames realizados a partir de 2009; apresentar teste de proficiência no
idioma aceito pela instituição de destino; ter integralizado no mínimo 20% e,
no máximo, 90% do currículo previsto para seu curso no momento do início
previsto da viagem de estudos; e ser homologado pela instituição de ensino
superior (IES) de origem (mérito acadêmico).
Destinos
Das 85 mil bolsas concedidas desde o lançamento do programa em dezembro de 2011, a grande maioria teve os Estados Unidos como destino. Ao todo, 32% dos agraciados seguiriam para aquele país. Em segundo lugar vem o Reino Unido (11%), seguido por Canadá (8%), França (8%) e Alemanha (7%).
Das 85 mil bolsas concedidas desde o lançamento do programa em dezembro de 2011, a grande maioria teve os Estados Unidos como destino. Ao todo, 32% dos agraciados seguiriam para aquele país. Em segundo lugar vem o Reino Unido (11%), seguido por Canadá (8%), França (8%) e Alemanha (7%).
Os
cursos de engenharias e demais áreas tecnológicas contam com o maior número de
bolsistas no programa, 52%. Já as áreas que englobam biologia, ciências
biomédicas e saúde agregam 18% das concessões; ciências exatas e da terra somam
8%; computação e tecnologias da informação, 6%; produção agrícola sustentável,
4%; seguidas por fármacos e biotecnologia, com 2% cada. Biodiversidades,
bioprospecção e energias renováveis participam com 1% das bolsas do Ciência sem
Fronteiras.
Sobre o programa
Ciência
Sem Fronteiras é um programa de bolsas de intercâmbio e mobilidade
internacional para estudantes e tem objetivo de consolidar, expandir e
internacionalizar a ciência e tecnologia, inovação e competitividade
brasileira.
A
bolsa concedida custeará a permanência do aluno pelo período estudo no país.
Além da mensalidade na moeda local, são concedidos auxílio instalação,
seguro-saúde (pago no país de destino), auxílio deslocamento para aquisição de
passagens aéreas e auxílio material didático para compra de computador portátil
ou tablet.
A questão do ser segundo Heidegger
José
Henrique Coelho
Em sua obra Ser e Tempo Heidegger
tem como principal objetivo fazer uma apresentação sobre a questão do ser,
investigando seu sentido, procurando através da ontologia diferenciar ser e ente, e demonstrar o
tempo como horizonte de compreensão do ser. Nesse sentido, o presente artigo
propõe discutir a respeito do ser e do Dasein.
A
busca pela interpretação do ser tem sua origem desde os filósofos clássicos. Na
arrancada grega para encontrar uma interpretação a seu respeito, originaram-se
certos preconceitos que acabaram por levar ao esquecimento do ser.
Primeiramente, a concepção de que o ser é o conceito mais universal e mais
vazio, resistindo a qualquer tentativa de definição. Depois, de que o ser se
articula de maneira conceitual segundo gênero e espécie, sendo que a
“universalidade” do ser “transcende” toda a universalidade genérica. Por fim,
de que o ser é um conceito evidente por si mesmo, uma vez que em todo
conhecimento enunciado ou relacionamento com os entes e até mesmo no
relacionamento consigo mesmo, faz-se uso de ser.
A essa
visão Heidegger faz uma crítica, pois tal pensamento causou dificuldades para
se fazer um estudo a respeito do ser. Como conseqüência, observou-se o
esquecimento do ser, o qual Heidegger propõe resgatar.
A
busca presente nesse questionamento não é algo que seja totalmente
desconhecido, mesmo que num primeiro momento seja algo inapreensível.
Pergunta-se pelo ser, o qual determina o ente como ente, pois ele se encontra
compreendido em qualquer discussão que se faça ou venha a fazer. Porém o ser
dos entes não é em si mesmo um outro ente.
Essa
questão é fundamental, pois visa às condições a priori de possibilidade não só
das ciências que realizam pesquisas sobre os entes, e que ao realizá-la se
movem na compreensão do ser. A questão sobre o ser aponta para as condições de
possibilidade presente nas próprias ontologias que antecedem e fundam as
chamadas ciências ônticas.
A
investigação ontológica que se compreende corretamente confere à questão do ser
um primado ontológico que vai muito além de simplesmente reassumir uma tradição
venerada e um problema até agora sem transparência. (HEIDEGGER, Ser e Tempo, p.47)
A
visualização, o compreender, o escolher, são atitudes que constituem o
perguntar do ente, sendo que ao mesmo tempo são os modos de ser de um determinado
ente, o próprio que se questiona. Dessa maneira, para elaborar a questão do
ser, é necessário tornar transparente um ente que possa exercer a atividade de
questionar em seu ser e ao mesmo tempo falar dele.
Na
busca de encontrar uma solução para essa questão, Heidegger apresenta o Dasein,
que se relaciona com o ser e pergunta pelo ser. O Dasein tem o primado
ontológico como sendo sua existência interpretada na temporalidade. A pergunta
sobre o ser deve ser interpretada para além das aparências, onde se percebe o
sentido do cuidar que implica temporalidade, estrutura constitutiva do homem.
Quanto
ao primado ôntico, o Dasein não é apenas um ente que ocorre entre outros entes.
Tem o privilégio de, em seu ser, isto é, sendo, o seu próprio ser estar em
jogo; pertence à constituição de ser do Dasein, estabelecendo uma relação de
ser com seu próprio ser.
A
tarefa do Dasein fica totalmente orientada para a tarefa de guiar a elaboração
sobre a questão do ser, a partir de uma analítica existencial, a qual não tem a
pretensão de proporcionar uma ontologia completa a respeito do Dasein. Ela
explicita o ser desse ente; o que lhe compete é liberar o horizonte para a mais
originária das interpretações do ser.
A
temporalidade será demonstrada como o sentido desse ente que chamamos de
Dasein, ou seja, o que se fará é uma investigação ontológica concreta no
horizonte liberado pelo tempo com uma investigação sobre o sentido do ser.
O
Dasein pergunta pelo ser, numa relação com os demais entes. Compreender o
Dasein é também compreender os outros entes presentes no mundo. Dessa maneira,
tem a possibilidade de viver autenticamente.
O
Dasein compreende a si próprio, a partir da relação estabelecida com os entes
que ele vai convivendo na cotidianidade do mundo no qual ele está inserido,
sendo que sua presença no mundo dispõe de uma variada interpretação, e sua
presença depara com dificuldades presentes em seu modo de ser.
Percebe-se,
então, que através da ontologia do ser, Heidegger pretende apresentar uma
relação do ser humano com o mundo e com os outros, ao tentar explicar o ser, a
partir do Dasein. Tal iniciativa trouxe novas visões na busca do desvelamento
do ser, uma vez que sua proposta de remexer nas ruínas deixadas pelos antigos
através do método da fenomenologia, proporcionou novo entendimento sobre a tão
questionada pergunta sobre o sentido do ser.
Referências
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Trad.
Márcia Sá Cavalcante Schuback. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 2007.
Especial Nietzsche - Vontade de potência - Conflito senhor e Escravo - Bom e ruim- Má consciência - Transvaloração - Super-homem
ÉTICA
Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche
Para ser feliz, o homem precisa afirmar sua potência de vida. Quando essa é reprimida, ele leva uma existência submissa, apenas reativa. Sentimentos como culpa e ressentimento decorrem de valores estabelecidos pelo homem reativo
Por Amauri Ferreira
Nesse sentido, Nietzsche nos diz que a felicidade corresponde ao crescimento da nossa potência, a uma constante diferenciação de si mesmo, o que torna desnecessária toda crença em um ideal ascético, isto é, em um modelo de perfeição que esmaga as diferenças.
Para Nietzsche, há duas morais: a do senhor e a do escravo. Na moral do escravo, há uma hierarquia, em que a autoridade do senhor é assegurada apenas por meio de uma lei. Ao contrário, na moral do senhor, o mais fortalecido - em potência - torna-se senhor do mais fraco |
Para Nietzsche, a natureza é constituída por uma multiplicidade de forças (ou impulsos) que estão permanentemente em conflito: forças que, ao assimilarem outras forças, crescem e expandem a sua potência; forças que, ao serem exploradas, reagem e tentam resistir à dominação. Nesse sentido, toda força é vontade de potência (ou vontade de poder), isto é, um impulso constante ao crescimento intensivo: "A vontade de poder só pode externar-se em resistências; ela procura, portanto, por aquilo que lhe resiste. [...] A apropriação e a incorporação são, antes de tudo, um querer-dominar, um formar, configurar e transfigurar, até que finalmente o dominado tenha passado inteiramente para o poder do agressor e o tenha aumentado" (A vontade de poder, 656). Portanto, as relações entre as forças envolvem necessariamente um desequilíbrio ou uma desigualdade entre elas, por isso sempre vão existir forças que são dominantes e outras que são dominadas. É evidente que se trata de uma hierarquia estabelecida pela potência das forças conflitantes e não uma hierarquia determinada pela representação da potência, que seria assegurada por intermédio de uma lei: "Acautelo-me de falar em 'leis'químicas: isso tem um sabor moral. Trata-se antes de uma verificação absoluta de proporções de poder: o mais fortalecido torna-se senhor do mais fraco, à medida que este não pode impor justamente o seu grau de autonomia, - aqui não há nenhum compadecer-se, nenhuma preservação, ainda menos um respeito a 'leis'!" (A vontade de poder, 630).
"Cada conquista do conhecimento decorre do ânimo, da dureza contra si, do anseio para consigo" Nietzsche
A força dominante é ativa, pois seu domínio ocorre em
circunstâncias em que ela é capaz de agir e modificar a realidade
estabelecida, expandindo, dessa forma, a sua potência. Já a força
dominada é passiva ou reativa, pois, limitada pela mais forte, apenas
reage ou adapta-se à dominação: "O que é 'passivo'? Ser tolhido no
movimento que avança açambarcando: portanto, um agir da resistência e da
reação. O que é 'ativo'? É o que açambarca poder, dirigindo-se para
fora" (A vontade de poder, 657). Por isso Nietzsche faz a importante
distinção entre nobres e plebeus, senhores e escravos: os nobres ou
senhores são os que podem dominar os mais fracos, e os plebeus ou
escravos são os explorados pelos mais fortes e, enquanto estiverem
submetidos às forças mais potentes, estão impedidos de exercer um
domínio sobre outras forças.Bom e ruim
Essa distinção é fundamental para uma problematização da geração de valores. Ao mesmo tempo em que domina, o homem nobre interpreta, avalia, isto é, cria e impõe valores que derivam de uma afirmação da vida, de uma afirmação dos sentidos do corpo. Dessa maneira, ele considera "bom" todo aquele que é capaz de expandir a sua potência, metamorfoseando- se, e, ao contrário, considera "ruim" os que vivem entravados no impulso ao crescimento da potência, impedidos de se diferenciarem. Portanto, a origem do conceito "bom" está relacionada à própria ação efetuada pelo homem nobre - ele afirma a sua diferença. Isso quer dizer que "o juízo 'bom' não provém daqueles aos quais se fez o 'bem'! Foram os 'bons' mesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores em posição e pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposição a tudo que era baixo, de pensamento baixo, vulgar e plebeu. Desse phatos da distância é que eles tomaram para si o direito de criar valores, cunhar nomes para os valores: que lhes importava a utilidade!" (Genealogia da moral, primeira dissertação, 2).
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ÉTICA
Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche
Para ser feliz, o homem precisa afirmar sua potência de vida. Quando essa é reprimida, ele leva uma existência submissa, apenas reativa. Sentimentos como culpa e ressentimento decorrem de valores estabelecidos pelo homem reativo
Por Amauri Ferreira
Os conflitos entre as forças geram as impressões (ou imagens) que são recolhidas pela nossa consciência. Para Nietzsche, a consciência é de natureza reflexiva e reativa, porque ela apenas conhece os efeitos de uma atividade inconsciente (os conflitos entre as forças) e, a partir disso, podemos organizar as funções práticas da nossa existência. Ora, a doença do homem escravo e reativo está relacionada a uma "indigestão" das impressões recebidas. Ele torna-se cada vez mais incapaz de esquecer as impressões, o que lhe causa dor (já que são constantemente re-sentidas), impedindo-o de abrir-se ao ineditismo de todo acontecer: "[...] a lembrança é uma ferida supurante. Estar doente é em si uma forma de ressentimento. [...] E nenhuma chama nos devora tão rapidamente quanto os afetos do ressentimento. [...] O ressentimento é o proibido em si para o doente - seu mal: infelizmente também sua mais natural inclinação" (Ecce Homo, Por que sou tão sábio, 6). Mas a doença do homem reativo torna-se ainda mais grave porque ele também experimenta uma crescente interiorização dos seus impulsos inconscientes, isto é, os impulsos ativos que o levariam à dominação são constantemente refreados, o que dá origem à má consciência: "Todos os instintos que não se descarregam para fora se voltam para dentro. [...] A hostilidade, a crueldade, o prazer na perseguição, no assalto, na mudança, na destruição - tudo isso se voltando contra os possuidores de tais instintos: esta é a origem da má consciência" (Genealogia da moral, segunda dissertação, 16).
"Fome" ou
"falta" passam a constituir a vida do homem reativo que, limitado à
conservação da sua existência, é incapaz de dar vazão à sua potência
Prisioneiro do ressentimento e da má consciência, o homem reativo
passa a ter uma estranha noção da sua vontade de potência: faltaria a
potência para preencher a sua vontade. Trata-se de uma vontade que quer a
potência. A "fome" ou a "falta" passam a constituir a vida do homem
reativo que, limitado apenas à dimensão da conservação da sua
existência, é incapaz de dar vazão à sua potência, de assenhorar outras
forças: "Não é possível tomar a fome como primum mobile: tampouco como
autoconservação: a fome concebida como consequência da subalimentação,
quer dizer: a fome como consequência de uma vontade de poder que não
está mais se assenhorando" (A vontade de poder, 652).Mas a noção reativa de uma felicidade que está relacionada à posse de algo que, supostamente, preencheria a nossa vontade, somente pode deixar de existir quando a felicidade passa a relacionar-se à efetuação de potência - o que nos faz experimentar um crescimento intensivo, que provém da assimilação de outras forças: "O que é felicidade? - O sentimento de que o poder cresce, de que uma resistência é superada" (O anticristo, 2). Isso quer dizer que, ao contrário de quem está fraco, o homem ativo pode refrear a noção de uma "carência na vontade" porque simplesmente a sua alma se alimenta de tudo que os sentidos do corpo recebem, para, em seguida, devolver ao mundo um ato que expressa a sua diferença: "Tornar-vos vós mesmos oferendas e dádivas, é essa a vossa sede; e, por isso, tendes sede de acumular, na vossa alma, todas as riquezas" (Assim falou Zaratustra, Da virtude dadivosa, 1). Diferenciar-se de si mesmo é, sem dúvida, tornar-se o que se é.
Colheita da papoula, de Desiré François Laugee. Na inversão de valores, que fez prevalecer a moral do escravo, o Deus judaico, Javé - louvado em festas para agradecer pela colheita, por exemplo -, passou a ser um Deus que julga, dando castigo ou recompensa |
Mas como os valores gerados pelos homens nobres e ativos foram invertidos pelos valores plebeus e reativos? O homem reativo sofre por estar vivo, e seu sofrimento parece interminável: enquanto permanece incapaz de experimentar a felicidade ativa, imagina que a sua dor terá um fim se finalmente encontrar a explicação para o seu tormento, juntamente com a esperança de alcançar, finalmente, a felicidade. Pois bem, o sacerdote ascético lhe oferece uma explicação e uma promessa de felicidade! A inversão da interpretação e avaliação nobre, pela reinterpretação e reavaliação plebeia, somente teve êxito por meio de um agente organizador de rebanhos: o sacerdote judaico. Pela interpretação sacerdotal, os homens fortes passam a ser os culpados pela desgraça dos fracos, e considerados como uma ameaça permanente à conservação dos impotentes, ou seja, os homens fortes tornam-se os "maus" porque são egoístas, e os fracos tornam-se os "bons" porque não são egoístas.
Nietzsche nos diz que essa inversão de valores implicou uma falsificação do Deus judaico. Dessa forma, o Javé que era reverenciado por grandes festas, como forma de agradecimento pela boa fortuna na colheita, na pecuária, etc., foi transformado em um Javé que castiga e recompensa. Os "agitadores sacerdotais" criaram um Deus com a função de proteger o seu rebanho enfermo contra os homens sãos: "Originalmente, sobretudo na época dos reis, também Israel achava-se na relação correta, ou seja, natural, com todas as coisas. Seu Javé era expressão da consciência de poder, da alegria consigo, da esperança por si: nele esperava-se vitória e salvação, com ele confiava-se na natureza, que trouxesse o que o povo necessitava - chuva, principalmente. [...] Que aconteceu? Mudaram seu conceito. [...] Seu conceito torna-se instrumento nas mãos de agitadores sacerdotais, que passam a interpretar toda felicidade como recompensa, toda infelicidade como castigo por desobediência a Deus. [...] Observemo-los em ação: nas mãos dos sacerdotes judeus, a grande época de Israel tornou-se uma época de declínio; o exílio, a longa desventura transformou-se em eterna punição pela grande época - um tempo em que o sacerdote ainda não era nada..." (O anticristo, 25 e 26).
São Paulo escrevendo as epístolas, obra de Valentin de Boulogne. Na interpretação de Paulo de Tarso, a morte de Jesus ocorreu para redimir os pecados da humanidade. O homem tem eterna dívida com Deus e a felicidade só virá para aqueles que o servem, que reprimem suas vontades de potência |
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