ÉTICA
Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche
Para
ser feliz, o homem precisa afirmar sua potência de vida. Quando essa é
reprimida, ele leva uma existência submissa, apenas reativa. Sentimentos
como culpa e ressentimento decorrem de valores estabelecidos pelo homem
reativo
Por Amauri Ferreira
Amauri Ferreira, filósofo e escritor. Ministra
cursos, coordena grupos de estudos e desenvolve pesquisas pela Escola
Nômade de Filosofia (www.escolanomade.org) Blog:
amauriferreira.blogspot.com
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Qual é a origem do pecado, da culpa, e do ressentimento? São
sentimentos que se tornaram tão comuns que podem nos levar a acreditar
que eles são inerentes ao homem. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche
(1844-1900), em sua genealogia, nos diz que esses sentimentos são
inseparáveis da moral judaico- cristã. É por essa moral que o homem
experimenta continuamente uma repressão de seus impulsos ativos. Mas
como esses impulsos não somem, é inevitável que haja um conflito entre
uma moral que reprime e a nossa vontade de potência, que quer
expandir-se. Assim, segundo o filósofo, o homem torna-se reativo quando
vive limitado apenas à conservação da sua existência, o que faz
multiplicar o seu sofrimento e a necessidade de viver cada vez mais
submetido às promessas de recompensa oferecidas pelo poder sacerdotal.
Dessa forma, o homem passa a ignorar um aspecto primordial da existência
que é a criação, ou seja, é somente por meio da efetuação da sua
natureza que o homem torna-se capaz de criar novos valores, de afastar
para longe de si a culpa e o ressentimento.
Nesse sentido, Nietzsche nos diz que a felicidade corresponde
ao crescimento da nossa potência, a uma constante diferenciação de si
mesmo, o que torna desnecessária toda crença em um ideal ascético, isto
é, em um modelo de perfeição que esmaga as diferenças.
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Para Nietzsche, há duas morais: a
do senhor e a do escravo. Na moral do escravo, há uma hierarquia, em que
a autoridade do senhor é assegurada apenas por meio de uma lei. Ao
contrário, na moral do senhor, o mais fortalecido - em potência -
torna-se senhor do mais fraco |
Vontade de potência
Para Nietzsche, a natureza é constituída por uma multiplicidade
de forças (ou impulsos) que estão permanentemente em conflito: forças
que, ao assimilarem outras forças, crescem e expandem a sua potência;
forças que, ao serem exploradas, reagem e tentam resistir à dominação.
Nesse sentido, toda força é vontade de potência (ou vontade de poder),
isto é, um impulso constante ao crescimento intensivo: "A vontade de
poder só pode externar-se em resistências; ela procura, portanto, por
aquilo que lhe resiste. [...] A apropriação e a incorporação são, antes
de tudo, um querer-dominar, um formar, configurar e transfigurar, até
que finalmente o dominado tenha passado inteiramente para o poder do
agressor e o tenha aumentado" (A vontade de poder, 656). Portanto, as
relações entre as forças envolvem necessariamente um desequilíbrio ou
uma desigualdade entre elas, por isso sempre vão existir forças que são
dominantes e outras que são dominadas. É evidente que se trata de uma
hierarquia estabelecida pela potência das forças conflitantes e não uma
hierarquia determinada pela representação da potência, que seria
assegurada por intermédio de uma lei: "Acautelo-me de falar em
'leis'químicas: isso tem um sabor moral. Trata-se antes de uma
verificação absoluta de proporções de poder: o mais fortalecido torna-se
senhor do mais fraco, à medida que este não pode impor justamente o seu
grau de autonomia, - aqui não há nenhum compadecer-se, nenhuma
preservação, ainda menos um respeito a 'leis'!" (A vontade de poder,
630).
"Cada conquista do conhecimento decorre do ânimo, da dureza contra si, do anseio para consigo" Nietzsche
A força dominante é ativa, pois seu domínio ocorre em
circunstâncias em que ela é capaz de agir e modificar a realidade
estabelecida, expandindo, dessa forma, a sua potência. Já a força
dominada é passiva ou reativa, pois, limitada pela mais forte, apenas
reage ou adapta-se à dominação: "O que é 'passivo'? Ser tolhido no
movimento que avança açambarcando: portanto, um agir da resistência e da
reação. O que é 'ativo'? É o que açambarca poder, dirigindo-se para
fora" (A vontade de poder, 657). Por isso Nietzsche faz a importante
distinção entre nobres e plebeus, senhores e escravos: os nobres ou
senhores são os que podem dominar os mais fracos, e os plebeus ou
escravos são os explorados pelos mais fortes e, enquanto estiverem
submetidos às forças mais potentes, estão impedidos de exercer um
domínio sobre outras forças.
Bom e ruim
Essa distinção é fundamental para uma problematização da geração
de valores. Ao mesmo tempo em que domina, o homem nobre interpreta,
avalia, isto é, cria e impõe valores que derivam de uma afirmação da
vida, de uma afirmação dos sentidos do corpo. Dessa maneira, ele
considera "bom" todo aquele que é capaz de expandir a sua potência,
metamorfoseando- se, e, ao contrário, considera "ruim" os que vivem
entravados no impulso ao crescimento da potência, impedidos de se
diferenciarem. Portanto, a origem do conceito "bom" está relacionada à
própria ação efetuada pelo homem nobre - ele afirma a sua diferença.
Isso quer dizer que "o juízo 'bom' não provém daqueles aos quais se fez o
'bem'! Foram os 'bons' mesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores
em posição e pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus
atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposição a tudo que era
baixo, de pensamento baixo, vulgar e plebeu. Desse phatos da distância é
que eles tomaram para si o direito de criar valores, cunhar nomes para
os valores: que lhes importava a utilidade!" (Genealogia da moral,
primeira dissertação, 2).
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Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche
Para
ser feliz, o homem precisa afirmar sua potência de vida. Quando essa é
reprimida, ele leva uma existência submissa, apenas reativa. Sentimentos
como culpa e ressentimento decorrem de valores estabelecidos pelo homem
reativo
Por Amauri Ferreira
Má consciência
Os conflitos entre as forças geram as impressões (ou imagens) que
são recolhidas pela nossa consciência. Para Nietzsche, a consciência é
de natureza reflexiva e reativa, porque ela apenas conhece os efeitos de
uma atividade inconsciente (os conflitos entre as forças) e, a partir
disso, podemos organizar as funções práticas da nossa existência. Ora, a
doença do homem escravo e reativo está relacionada a uma "indigestão"
das impressões recebidas. Ele torna-se cada vez mais incapaz de esquecer
as impressões, o que lhe causa dor (já que são constantemente
re-sentidas), impedindo-o de abrir-se ao ineditismo de todo acontecer:
"[...] a lembrança é uma ferida supurante. Estar doente é em si uma
forma de ressentimento. [...] E nenhuma chama nos devora tão rapidamente
quanto os afetos do ressentimento. [...] O ressentimento é o proibido
em si para o doente - seu mal: infelizmente também sua mais natural
inclinação" (Ecce Homo, Por que sou tão sábio, 6). Mas a doença do homem
reativo torna-se ainda mais grave porque ele também experimenta uma
crescente interiorização dos seus impulsos inconscientes, isto é, os
impulsos ativos que o levariam à dominação são constantemente refreados,
o que dá origem à má consciência: "Todos os instintos que não se
descarregam para fora se voltam para dentro. [...] A hostilidade, a
crueldade, o prazer na perseguição, no assalto, na mudança, na
destruição - tudo isso se voltando contra os possuidores de tais
instintos: esta é a origem da má consciência" (Genealogia da moral,
segunda dissertação, 16).
"Fome" ou
"falta" passam a constituir a vida do homem reativo que, limitado à
conservação da sua existência, é incapaz de dar vazão à sua potência
Prisioneiro do ressentimento e da má consciência, o homem reativo
passa a ter uma estranha noção da sua vontade de potência: faltaria a
potência para preencher a sua vontade. Trata-se de uma vontade que quer a
potência. A "fome" ou a "falta" passam a constituir a vida do homem
reativo que, limitado apenas à dimensão da conservação da sua
existência, é incapaz de dar vazão à sua potência, de assenhorar outras
forças: "Não é possível tomar a fome como primum mobile: tampouco como
autoconservação: a fome concebida como consequência da subalimentação,
quer dizer: a fome como consequência de uma vontade de poder que não
está mais se assenhorando" (A vontade de poder, 652).
Mas a noção reativa de uma felicidade que está relacionada à
posse de algo que, supostamente, preencheria a nossa vontade, somente
pode deixar de existir quando a felicidade passa a relacionar-se à
efetuação de potência - o que nos faz experimentar um crescimento
intensivo, que provém da assimilação de outras forças: "O que é
felicidade? - O sentimento de que o poder cresce, de que uma resistência
é superada" (O anticristo, 2). Isso quer dizer que, ao contrário de
quem está fraco, o homem ativo pode refrear a noção de uma "carência na
vontade" porque simplesmente a sua alma se alimenta de tudo que os
sentidos do corpo recebem, para, em seguida, devolver ao mundo um ato
que expressa a sua diferença: "Tornar-vos vós mesmos oferendas e
dádivas, é essa a vossa sede; e, por isso, tendes sede de acumular, na
vossa alma, todas as riquezas" (Assim falou Zaratustra, Da virtude
dadivosa, 1). Diferenciar-se de si mesmo é, sem dúvida, tornar-se o que
se é.
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Colheita da papoula, de Desiré
François Laugee. Na inversão de valores, que fez prevalecer a moral do
escravo, o Deus judaico, Javé - louvado em festas para agradecer pela
colheita, por exemplo -, passou a ser um Deus que julga, dando castigo
ou recompensa |
O sacerdote ascético
Mas como os valores gerados pelos homens nobres e ativos foram
invertidos pelos valores plebeus e reativos? O homem reativo sofre por
estar vivo, e seu sofrimento parece interminável: enquanto permanece
incapaz de experimentar a felicidade ativa, imagina que a sua dor terá
um fim se finalmente encontrar a explicação para o seu tormento,
juntamente com a esperança de alcançar, finalmente, a felicidade. Pois
bem, o sacerdote ascético lhe oferece uma explicação e uma promessa de
felicidade! A inversão da interpretação e avaliação nobre, pela
reinterpretação e reavaliação plebeia, somente teve êxito por meio de um
agente organizador de rebanhos: o sacerdote judaico. Pela interpretação
sacerdotal, os homens fortes passam a ser os culpados pela desgraça dos
fracos, e considerados como uma ameaça permanente à conservação dos
impotentes, ou seja, os homens fortes tornam-se os "maus" porque são
egoístas, e os fracos tornam-se os "bons" porque não são egoístas.
Nietzsche nos diz que essa inversão de valores implicou uma
falsificação do Deus judaico. Dessa forma, o Javé que era reverenciado
por grandes festas, como forma de agradecimento pela boa fortuna na
colheita, na pecuária, etc., foi transformado em um Javé que castiga e
recompensa. Os "agitadores sacerdotais" criaram um Deus com a função de
proteger o seu rebanho enfermo contra os homens sãos: "Originalmente,
sobretudo na época dos reis, também Israel achava-se na relação correta,
ou seja, natural, com todas as coisas. Seu Javé era expressão da
consciência de poder, da alegria consigo, da esperança por si: nele
esperava-se vitória e salvação, com ele confiava-se na natureza, que
trouxesse o que o povo necessitava - chuva, principalmente. [...] Que
aconteceu? Mudaram seu conceito. [...] Seu conceito torna-se instrumento
nas mãos de agitadores sacerdotais, que passam a interpretar toda
felicidade como recompensa, toda infelicidade como castigo por
desobediência a Deus. [...] Observemo-los em ação: nas mãos dos
sacerdotes judeus, a grande época de Israel tornou-se uma época de
declínio; o exílio, a longa desventura transformou-se em eterna punição
pela grande época - um tempo em que o sacerdote ainda não era nada..."
(O anticristo, 25 e 26).
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São Paulo escrevendo as epístolas,
obra de Valentin de Boulogne. Na interpretação de Paulo de Tarso, a
morte de Jesus ocorreu para redimir os pecados da humanidade. O homem
tem eterna dívida com Deus e a felicidade só virá para aqueles que o
servem, que reprimem suas vontades de potência |
Ao contrário de uma comunidade sã que inventa um Deus para
agradecer a sua boa fortuna, os homens impotentes inventam um Deus como
meio de realizar a vingança contra os fortes e, também, pela necessidade
da crença em uma realidade melhor do que a que vivem: o ideal, o mundo
transcendente, a salvação, tornam-se artigos de fé que servem para
alimentar a esperança do fim do sofrimento dos doentes, que apenas
conhecem uma vontade: a de negar a vida. Atolados na lama do
ressentimento e da má consciência, eles não veem outra saída a não ser
encontrar os culpados por seus tormentos. Por intermédio do sacerdote
judaico, os fracos interpretam os fortes como monstros... É estabelecida
a inversão dos valores nobres pelos valores reativos: "Enquanto toda
moral nobre nasce de um triunfante Sim a si mesma, já de início a moral
escrava diz Não a um 'fora', um 'outro', um 'não-eu' - e este Não é o
seu ato criador. Esta inversão do olhar que estabelece valores - este
necessário dirigir-se para fora, em vez de voltar-se para si - é algo
próprio do ressentimento; a moral escrava sempre requer, para nascer, um
mundo oposto e exterior, para poder agir em absoluto - sua ação é no
fundo reação" (Genealogia da moral, primeira dissertação, 10).
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Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche Para
ser feliz, o homem precisa afirmar sua potência de vida. Quando essa é
reprimida, ele leva uma existência submissa, apenas reativa. Sentimentos
como culpa e ressentimento decorrem de valores estabelecidos pelo homem
reativo
Por Amauri Ferreira
Com a interpretação sacerdotal, os homens fortes passam a ser culpados pela desgraça dos fraco
Os valores reativos triunfam por meio da multiplicação cada vez
maior dos doentes. Quando Nietzsche diz que é necessário proteger os
fortes contra os fracos, é precisamente pelo fato dos fracos, por se
organizarem em rebanho, serem a maioria, envenenando toda vida saudável
pela acusação ressentida. Então, os fortes abaixam a cabeça e pedem
clemência - os seus instintos tornam-se reprimidos, assim como os do
rebanho, e poderão participar, enfim, dos "benefícios" da sociedade
reativa.
Mas a rebelião dos escravos tem um complemento, que é a
interpretação da má consciência como a consciência da dívida, operada
pelo sacerdote cristão: "Apenas nas mãos do sacerdote, esse verdadeiro
artista em sentimentos de culpa, ele veio a tomar forma - e que forma! O
'pecado' - pois assim se chama a interpretação sacerdotal da 'má
consciência' animal (da crueldade voltada para trás) - foi até agora o
maior acontecimento na história da alma enferma: nele temos o mais
perigoso e fatal artifício da interpretação religiosa" (Genealogia da
moral, terceira dissertação, 20).
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O guardador de rebanhos, de Luigi
Chialiva Os fracos, de vida reativa, segundo Nietzsche, agem como em
rebanhos, com valores padronizados. A moral dos escravos tenta fazer que
os fortes, de vida ativa, reprimam seus instintos e se juntem ao
rebanho |
O "golpe de gênio do cristianismo", realizado pelo judeu Paulo de
Tarso, consiste na interpretação da morte de Jesus Cristo como uma
redenção pelos pecados de toda a humanidade. Dessa forma, o sentimento
da dívida torna-se infinito: "[...] o próprio Deus se sacrificando pela
culpa dos homens, o próprio Deus pagando a si mesmo, Deus como o único
que pode redimir o homem daquilo que para o próprio homem se tornou
irredimível - o credor se sacrificando por seu devedor, por amor (é de
se dar crédito?), por amor a seu devedor!..." (Genealogia da moral,
segunda dissertação, 21). Apesar do cristianismo inventado por Paulo ter
dividido a humanidade em duas (antes e depois de Cristo), o Deus
cristão não se opõe ao Deus judaico - é, sobretudo, a continuação dos
valores nascidos do ressentimento e da negação da vida. Afinal, o "reino
de Deus" é a promessa da felicidade eterna para quem? Para os
sofredores, oprimidos, doentes, isto é, todos os que estão com a sua
vontade de potência entravada.
"Se a fé não tornasse feliz, não haveria fé: então quão pouco valor ela deve ter!" NIETZSCHE
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Cristo e a adúltera, por Nicolas
Poussin. A igreja cria uma série de proibições, como o adultério, o
aborto e a eutanásia, que quando transgredidas, provocam culpa. Para não
pecar,o homem vive com sua vontade de potência reprimida |
Como o poder da igreja depende que seus seguidores sintam-se
pecadores, ela inventa proibições para que, somente assim, haja
transgressão e, consequentemente, sentimento de culpa. Proibir o
adultério, o uso de preservativos, o aborto, a eutanásia, etc., são
dispositivos que servem para nascer, naquele que sofre, a consciência da
dívida. Então, basta que o indivíduo tenha apenas o desejo de
transgressão para que isso seja a "prova" suficiente do seu pecado e,
como isso representa uma ameaça à salvação da sua alma, é inevitável que
ele recorra, mais uma vez, ao poder sacerdotal: "A desobediência a
Deus, isto é, ao sacerdote, à 'Lei', recebe então o nome de 'pecado'.
[...] Psicologicamente, em toda sociedade organizada em torno ao
sacerdote os 'pecados' são imprescindíveis: são autênticas alavancas do
poder, o sacerdote vive dos pecados, ele necessita que se peque...
Princípio supremo: 'Deus perdoa quem faz penitência' - em linguagem
franca: quem se submete ao sacerdote" (O Anticristo, 26).
Nietzsche diz
que é necessário proteger os fortes contra os fracos, porque os fracos
são maioria e envenenam toda vida saudável com acusação ressentida
O bom e o mau segundo Nietzsche
Em Genealogia da Moral, Nietzsche tenta mostrar que
a moral - que define, entre outras coisas, o que é bom e o que é mau - é
um conceito que surge num lugar e num tempo determinado, ou seja, é
relativo e foi inventado pelo homem. A moral não é Metafísica (explicada
por algo além do mundo material) e nem atemporal. Ao investigar como
surgiu entre os povos o juízo de bom e mau, Nietzsche afirma que há duas
morais: a do senhor e a do escravo. A do senhor afirma a vida e baseia o
bom no que há de positivo em si (ser belo, forte), enquanto o ruim é
quem está limitado ao aspecto reativo da existência (ser humilde,
fraco). A do escravo surge do ressentimento, vê o forte como mau e, por
oposição, ele próprio, como sendo o bom. Nietzsche dis que o judaísmo e,
em seguida o cristianismo, consolidou a moral do escravo como a única
vigente. Com isso, houve uma inversão daquilo que os próprios nobres
consideravam bom. Segundo a avaliação do sacerdote judeu ou cristão, o
bom (na moral do senhor) passa a ser considerado mau e o ruim (que é o
fracona moral do senhor) passa a ser considerado bom.
Complemento da redação
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ÉTICA
Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche
Para
ser feliz, o homem precisa afirmar sua potência de vida. Quando essa é
reprimida, ele leva uma existência submissa, apenas reativa. Sentimentos
como culpa e ressentimento decorrem de valores estabelecidos pelo homem
reativo
Por Amauri Ferreira
Transvaloração
Por intermédio do método genealógico, Nietzsche nos mostrou que
os valores superiores à vida, fundados pelo ressentimento e pela má
consciência, atendem os interesses do homem reativo, que, por não
afirmar a sua potência, precisa negar o mundo imanente e transformar o
ideal, a imortalidade da alma, a identidade, o ser, o Criador, o bem, o
justo e o verdadeiro, em valores inquestionáveis. Pela moral
judaico-cristã, o rebanho impotente continua a crescer cada vez mais
rápido na era dos mass media, já que estes servem para reforçar a
consciência da identidade do rebanho: o pensamento de que "todos nós
somos muito parecidos" oferece segurança aos fracos... Na época da
democracia tudo é reproduzido em série, tudo se iguala, tudo se rebaixa,
nada mais difere. E tudo o que é classificado de "diferente" passa a
unir-se a um rebanho que está submetido a um modelo humano de perfeição -
assim o homem reativo anseia por um fim dos conflitos entre as forças
para alcançar a "felicidade da paz". Nietzsche não vê outra saída para o
futuro do homem a não ser a transvaloração dos valores, o que implica
uma transmutação da maneira que o homem vive - uma nova maneira de viver
que se alimenta de todo acontecer para diferenciar-se, não pela
representação da diferença, mas por uma potência da vida que, a cada
retorno, não nos permite que sejamos o mesmo. Somente assim os valores
modernos que estão impregnados pela moral judaico-cristã, como o "eu", a
obediência, o progresso, a paz e tantos outros, são destruídos por
valores muito mais nobres: a terra, o corpo, as sensações, o devir, o
acaso, passam a ser desejados por quem aprendeu a amar a vida.
É feita uma associação,
considerada indevida e ingênua pelos estudiosos da obra de Nietzsche,
entre as ideias do filósofo e o nazismo. Ela decorre das críticas
nietzschianas aos valores da moral cristã, de sua teoria da vontade de
potência e do seu elogio ao super-homem. Muitos destes conceitos foram
apropriados pelo nazismo, mas o filósofo deixou vários textos em que
condena nacionalismos e totalitarismos |
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Culpa é o que o sujeito sente
quando avalia seus atos de forma negativa. O pecado, no sentido
religioso, está ligado à culpa. Ele ocorre quando a pessoa comete algo
que supostamente não é bem-visto pela divindade, quando transgride um
tabu ou uma norma religiosa |
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REFERÊNCIAS
Nietzsche. O Anticristo. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2007
_________.Genealogia da moral. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1998
_________.Ecce Homo. Tradução: Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
_________.A vontade de poder. Tradução: Marcos S. P.
Fernandes e Francisco J. D. de Moraes. Rio de Janeiro: Contraponto, 2008
_________.Assim falou Zaratustra. Tradução: Mário da Silva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003
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Nietzsche e o Super Homem
Nietzsche foi um filósofo nascido em
Rocken, na Prussia em 1844 e falecido em 1900.
Entre
vários escritos, criou o termo super homem
para designar um ser superior aos demais que, segundo Nietzsche era o modelo ideal para elevar a humanidade.
Para ele, a meta do esforço humano não deveria ser a elevação de todos, mas o
desenvolvimento de indivíduos mais dotados e mais fortes.
A meta,
segundo Nietzsche, seria o super homem e não a humanidade, que para ele era
mera abstração, não existindo em realidade, sendo apenas um imenso formigueiro
de indivíduos.
O todo do
mundo era para ele como uma imensa oficina, onde algumas vezes as coisas eram
bem sucedidas, mas na maioria das vezes, o fracasso era o resultado final. A
finalidade das experiências era o aperfeiçoamento do indivíduo e não a
felicidade da coletividade.
Segundo
Nietzsche, a sociedade é o instrumento para a melhoria do poder e da
personalidade do indivíduo, não para a elevação de todos. A princípio ele
acreditava no surgimento de uma nova espécie de ser, porém, passou a cogitar a
possibilidade do seu “super homem” ser um indivíduo superior, que se elevasse
acima da mediocridade e que sua existência se devesse mais ao esforço e a educação, do que pela seleção natural.
Na visão
de Nietzsche o ser humano superior não deveria se unir a outro ser humano que
não fosse igualmente superior. Em sua visão, o amor é impedimento ao bom
senso e o homem não deveria tomar decisões que afetem sua vida, em momentos de
paixão, devendo o amor ser deixado para a ralé ou classe menos favorecida,
cabendo ao ser superior, o super homem, unir-se com outro ser superior, para
assim, dar seguimento ao desenvolvimento da raça e não apenas sua reprodução.
O super
homem idealizado por Nietzsche deveria ter uma educação eugênica, no sentido de
melhoria da condição humana, condição este subordinada as mais intensas
responsabilidades e cobranças por melhorias constantes, sem esmorecimentos ou
condescendências, onde o corpo e a alma aprenderiam a obedecer e a vontade a
subordinar-se a disciplina.
A
característica dominante do super homem de Nietzsche seria o amor à luta
e ao perigo, deixando a felicidade para a maioria, os meros humanos normais,
pois ao super homem caberia o dever de elevar-se além dos limites estabelecidos
pela normalidade, pois nada mais terrível do que a supremacia das massas,
segundo Nietzsche.
Fonte:
DURANT, Will – Os grandes filósofos – A Filosofia de Nietzsche – Editora Ediouro .
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